sábado, 29 de janeiro de 2011

Que lugar é este?

 Existem 67 parques ecológicos no Distrito Federal. A maioria deles está totalmente abandonada, sem infra-estrutura, sem cerca, sem placas indicativas, sem proteção do Estado. Nem a população os conhece
Rachel Librelon
Da equipe do Correio
Sessenta e sete parques ecológicos e o retrato do abandono: somente onze estão cercados, têm infra-estrutura e estão em condições de serem usados pela comunidade. Os números são da Secretaria de Parques e Unidades de Conservação (Comparques). Quarenta e três não estão cercados e, em alguns casos, não há placas indicando que o espaço é uma área de proteção ambiental. O que oficialmente recebe o nome de parque, muitas vezes, não passa de um pedaço de terra que parece não ter dono, um convite para invasores. A comunidade simplesmente ignora que a mata ao lado de casa é, na verdade, um parque.
Segundo o secretário da Comparques, Ênio Dutra, o orçamento deste ano prevê 12 milhões para cercar as unidades (cada cerca fica entre R$ 600 mil e R$ 1 milhão) e nada para a urbanização das áreas. Além de dinheiro, a implementação efetiva dos parques depende muito do empenho e disposição da população em lutar pela causa, embora os decretos de criação dos parques definam que “a implementação, administração e manutenção do parque são competência da Secretaria de Estado de Administração de Parques e Unidades de Conservação”. “Os parques surgem, na maioria das vezes, por demanda da sociedade. Cada comunidade tem interesse em ter o seu”, diz o secretário de Parques, dando a razão pela qual as unidades de conservação se multiplicam. Só este ano, quatro passaram a existir no papel.
Para Kátia Lemos, promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do DF (Prodema), além de ter a obrigação de criar os parques, cabe à administração pública elaborar um plano de manejo e pretende incentivar a criação de conselhos gestores, com a participação de representantes da comunidade local para definir como deve ser usado e preservado o espaço. “O papel das associações é fundamental, mas não exclui a participação do Estado”, adianta. Segundo ela, o Ministério Público já enviou uma recomendação alertando para a urgência de se providenciar o conselho e acertar o zoneamento dos parques. “Criar parque é positivo, mas a administração é omissa na hora de definir a utilização e estruturação do espaço”, avalia.
A conselheira do Fórum das OnGs Ambientalistas do DF e Entorno, Mara Moscoso, concorda que a parceria entre governo e sociedade é fundamental para a efetiva implementação dos parques e que a comunidade deve participar. “Não questiono a importância de se criar esses espaços e de a população ajudar. Novos parques são bem-vindos, é um começo, mas é preciso ter projetos definidos do governo”, afirma. Ela acrescenta que, ao se criar um parque, não se pode deixar de lado uma das principais causas que levam à criação das áreas: a sua preservação. Mara comenta que a maioria dos parques mais recentes do DF foi implementado depois de muita luta da comunidade.
Parque das Sucupiras
É o caso do Parque das Sucupiras, criado no mês passado. O empenho dos moradores do Sudoeste para transformar a área ao lado do Eixo Monumental, na altura da Catedral Rainha da Paz, em área de preservação começou faz cinco anos. Há pouco mais de um ano, formou-se uma associação para defender o lugar. “O decreto oficial é um ponto de partida, mas, na prática, muda muito pouco. Começa agora uma nova etapa para pensar na urbanização do parque”, diz Fernando Lopes, da Associação dos Amigos do Parque da Sucupira. Para que seja implementada infra-estrutura no local, a comunidade e o governo devem discutir e criar um plano de manejo.
“A verdade é que cuidar e manter parques, embora seja obrigação do poder público, não é prioridade”, sentencia o professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB), Luiz Melo, pesquisador em paisagismo e parques urbanos. Ele explica que Parques de Uso Múltiplo e Ecológico aceitam que a população deles usufrua. No entanto, na maioria dos casos, o planejamento urbanístico é deixado para segundo plano. “Resta à população se apropriar do espaço para melhorá-la, se quiser ter uma área de lazer e contemplação da natureza”, conclui.

Confusão de nomes
Parque Ecológico, Parque de Uso Múltiplo, Parque Ecológico e Vivencial, Parque Urbano, Parque Metropolitano, Parque Recreativo. A nomenclatura que deveria definir o uso de cada unidade de conservação não segue um padrão. A partir do título que determinado parque recebe não é possível saber qual é o uso a ser feito dele. “Existem apenas dois tipos de parque: o ecológico e o ecológico de uso múltiplo. O primeiro tem um apelo ambiental muito forte e deve ser usado basicamente para pesquisa e educação ambiental. O segundo visa tanto ser usado para preservação quanto para o uso da comunidade”, explica o secretário de Parques e Unidades de Conservação, Ênio Dutra. Na prática, a confusão é total. Apesar da denominação, o Parque Ecológico e Vivencial da Canjerana, na QL 22/24 do Lago Sul, tem como propósito primeiro a conservação, segundo o próprio secretário. O Parque Sarah Kubitschek é de Uso Múltiplo. Para acabar com a festa dos nomes, tramita na Câmara Legislativa do Distrito Federal, o projeto do Sistema Distrital de Unidades de Conservação (SDUC). A exemplo do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), existente desde 2000, a proposta padroniza as denominações e define cada uma delas. O Projeto de Lei Complementar 062/2003, da deputada Eliana Pedrosa (PFL), está na Comissão de Constituição e Justiça. O projeto define sete categorias para o grupo das unidades de Uso Sustentável. São elas: Área de Proteção Ambiental, Área de Proteção de Mananciais, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Distrital, Parque Ecológico, Reserva de Fauna e Reserva Particular do Patrimônio Natural. Essas unidades podem ser exploradas desde que haja manutenção dos recursos ambientais e processos ecológicos e o uso seja democrático e economicamente viável. No Parque Ecológico, além da preservação, também devem ser incentivadas atividades de pesquisa, educação ambiental e de lazer e recreação. (RL)

Sucupiras, tizius, quedas d’água
Não há privilégio: todas as cidades, desde o Plano Piloto até as mais afastadas, têm um ou mais parques ecológicos. É o cerrado com sua riqueza de flora e fauna, mas sem a proteção necessária
Um dos mais novos parques da cidade, o das Sucupiras ocupa área nobre no Plano Piloto. Fica entre a área econômica do Setor Sudoeste e o Eixo Monumental. São cerca de 22 hectares de cerrado nativo e preservado. Quem passa pelo parque pode apreciar o vôo de nhambus, gaviões, tizius, e a beleza das orquídeas do cerrado, de pequenas frutas nativas, muitas sucupiras e pequizeiros. Mas o parque sofre diariamente com a presença de moradores de rua e carroceiros. Ainda não está cercado nem tem nenhuma infra-estrutura. É somente uma área de cerrado em meio à vida urbana.
Morador do Setor Norte do Gama, Marco Moreno já se cansou de promessas. O parque de 52 hectares perto de casa foi visitado várias vezes por comissões que se propunham a agilizar a implantação do parque. Também foram feitos apelos em emissoras de televisão, de rádio e jornal impresso. “Ouvi que isso vai virar um parque mesmo até o final deste ano. Vamos ver”, diz o homem que há dez anos luta pela causa.
Por ora, o lugar mais parece um terreno abandonado, ao lado da feira permanente da cidade. O lazer se resume a campos de futebol de terra batida. Recentemente, algumas mudas de árvores foram plantadas no local. A reivindicação do Conselho do Setor Norte do Gama, da qual Moreno é presidente, é que o parque seja preservado e usado pela comunidade para a prática de exercícios físicos. “Até lá, a gente tem que ficar sempre vigiando, senão perdemos o espaço”, afirma.

Retratos da natureza
“Já cortaram pequizeiros”
A briga do produtor rural Miguel Monteiro da Silva, 59 anos, pelo Parque dos Pequizeiros, em Planaltina, o maior do DF, com 783 hectares, começou antes mesmo de o parque ser criado no papel, em 1999. Há 12 anos, ele luta para que chacareiros não tomem conta do lugar. “Já cortaram pequizeiros demais aqui. Tiraram terra e deixaram um monte de crateras no chão. Acho que tenho obrigação de cuidar disso porque esse lugar está cheio de minas d’água e a gente precisa disso para viver”, diz o homem. Há alguns meses, o parque foi cercado, mas ainda falta infra-estrutura. O plano de manejo ainda não está pronto e a única obra no local é uma pequena construção de alvenaria. Boa parte da comunidade do Núcleo Rural Santos Dumont, onde fica o parque, ainda não sabe que mora do lado de uma belíssima área de preservação. “Só quem entra nesse mato de vez em quando são uns jovens. Mas eles usam do jeito errado. Fazem bagunça e deixam lixo”, conta o guardião do lugar.
“Ninguém cuida disso”
É muito provável que um visitante não consiga chegar ao Parque Ecológico e Vivencial do Retirinho, em Planaltina. Com uma parte ocupada por chácaras e outra cercada com arame farpado, nada indica que ali há um parque. Nem na escola que fica a alguns metros da reserva que 663 hectares. Na entrada, uma porteira trancada confunde os desavisados. “Ninguém cuida disso aqui não. Vieram, desapropriaram um bom pedaço, foram embora e ninguém saiu de onde estava. Já ouvi falar que vão fechar, cercar direitinho. Conversa…”, diz, cético, o chacareiro Ronei Menezes, 46 anos, morador da região há 23. Consciente, o homem simples se preocupa com as nascentes. “Só acho ruim tirar o pessoal que está aqui. Para onde essa gente vai?”, questiona.
“Abandonado de dar pena”
Não há cerca nem placas demarcando o Parque Ecológico da Cachoeirinha, no Paranoá. Só depois de pedir muitas informações se chega lá. Na entrada do parque, um caminho que corta a mata leva a uma belíssima e escondida cachoeira. Mas o paraíso que deveria estar preservado não tem lei. Nos finais de semana, o movimento é intenso. Gente à procura da queda d’água deixa o lixo para trás. Há galinhas mortas, velas, garrafas com bebidas, pratos de barro, sinas de atividades de magia. “Um lugar tão bonito e tão abandonado é de dar pena”, diz José Valdi Gonçalves, 48 anos, morador da chácara que fica em frente ao parque. Há cerca de oito meses, fiscais avisaram ao operador de equipamentos que ele morava dentro do parque. “Estou aqui há muito tempo, antes disso ser parque. Além do que, da minha parte eu cuido”, garante.

De Ceilândia ao Lago Sul
? Parque Ecológico Águas Claras
? Parque do Areal (Águas Claras)
? Parque de Uso Múltiplo Vila Planalto
? Parque das Aves (Brasília)
? Parque de Uso Múltiplo da Asa Sul
? Parque Olhos d’Água
? Parque Sarah Kubitschek (Brasília)
? Parque Ecológico Veredinha (Brazlândia)
? Parque Ecológico e Vivencial da Candangolândia
? Parque das Corujas (Ceilândia)
? Parque Ecológico e Vivencial do Rio Descoberto (Ceilândia)
? Parque da Lagoinha (Ceilândia)
? Parque Ecológico Metropolitano (Ceilândia)
? Parque Recreativo do Setor O
? Parque Urbano e Vivencial do Gama
? Parque Recreativo do Gama (Prainha)
? Parque Ecológico e Vivencial Ponte Alta - Gama
? Parque Vivencial Denner (Guará)
? Parque Ecológico e Vivencial Bosque dos Eucaliptos (Guará)
? Parque Ecológico Ezechias Heringer (Guará)
? Parque Ecológico das Garças (Lago Norte)
? Parque Ecológico Taquari (Lago Norte)
? Parque Morro do Careca (Lago Norte)
? Parque de Uso Múltiplo do Lago Norte
? Parque Ecológico do Rasgado (Lago Sul)
? Parque das Copaíbas (Lago Sul)
? Parque Ecológico e Vivencial Canjerana (Lago Sul)
? Parque Ecológico Garça Branca (Lago Sul)
? Parque Ecológico Dom Bosco (Lago Sul)
? Parque Ecológico Península Sul
? Parque Vivencial Anfiteatro Natural do Lago Sul
? Parque Ecológico Córrego da Onça (Núcleo Bandeirante)
? Parque Luiz Cruls (Núcleo Bandeirante)
? Parque Ecológico Lauro Muller (Núcleo Bandeirante)
? Parque Recreativo do Núcleo Bandeirante
? Parque Urbano do Paranoá
? Parque Ecológico da Cachoeirinha (Paranoá)
? Parque Ecológico e Vivencial do Retirinho (Planaltina)
? Parque Ecológico Vale do Amanhecer (Planaltina)
? Parque Ecológico e Vivencial Estância (Planaltina)
? Parque Ecológico e Vivencial Cachoeira do Piripau (Planaltina)
? Parque Recreativo Sucupira (Planaltina)
? Parque Ecológico e Vivencial da Lagoa Joaquim de Medeiros (Planaltina)
? Parque Ecológico dos Pequizeiros (Planaltina)
? Parque Ecológico do DER (Planaltina)
? Parque Ambiental Colégio Agrícola de Brasília (Planaltina)
? Parque Ecológico e Vivencial Recanto das Emas
? Parque Ecológico e Vivencial do Riacho Fundo
? Parque Gatumé (Samambaia)
? Parque Três Meninas (Samambaia)
? Parque Boca da Mata (Samambaia)
? Parque Recreativo de Santa Maria
? Parque Ecológico Tororó (Santa Maria)
? Parque São Sebastião
? Parque dos Jequitibás (Sobradinho)
? Parque Recreativo e Ecológico Canela de Ema (Sobradinho)
? Parque Ecológico e Vivencial de Sobradinho
? Parque Recreativo de Sobradinho II
? Parque Ecológico das Sucupiras (Sudoeste)
? Parque Urbano Bosque do Sudoeste
? Parque Recreativo Taguatinga
? Parque Ecológico Irmão Afonso Haus ( Taguatinga)
? Parque Ecológico Saburo Onoyama (Taguatinga)
? Parque Ecológico Lago Cortado (Taguatinga)
? Parque Ecológico e Vivencial Vila Varjão
? Parque Burle Marx (Brasília)
? Parque Ecológico Rio Descoberto (Ceilândia)

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