domingo, 19 de dezembro de 2010

PARA QUE SERVE UMA AUDIÊNCIA PÚBLICA?

Postado em Fri, 17 Dec 2010 12:55:04 por ZNnaLinha

Se um audiência pública serve para alguma coisa, isso vai poder ser conferido exatamente agora, quando o salão lotado tinha mais de 95% de pessoas contrárias à obra, com as mais diversas razões para isso.



Um jovem se inscreveu só para perguntar: e agora? "O que vai mudar após essa audiência? A obra vai acontecer mesmo assim?"

Mil pessoas (mais não vieram, por não poderem ir às 17h de um dia útil até o centro da cidade) vão conseguir mudar um projeto de R$ 5 bilhões?

Como foi dito: "é o governo propondo, o governo analisando e o governo licenciando". O ambientalista Carlos Bocuhy, dos últimos a falar, acredita que esse modelo não é digno de confiança, e que a única segurança é a via judicial.


GENTE DE PESO FALOU PESADO NA AUDIÊNCIA
Postado em Fri, 17 Dec 2010 12:40:20 por ZNnaLinha

O peso se mostrava na entrada da Casa de Portugal: dezenas de policiais PM garantiam a "segurança" da audiência. Parecia que um grande conflito ou risco iminente à ordem social estava para acontecer.



Mas era a audiência pública para licenciamento ambiental do trecho Norte do Rodoanel. Momento em que a população podia manifestar sua opinião e posição. E a
população se manifestou com força.

"Em 2004 a sociedade se mobilizou contra o câncer que se insurgia, e teve êxito. Mas o câncer voltou". "Não são 20 moradias na Vila Rica não, são 85!" "Uma escola vai desaparecer, e em vez de criarmos cidadãos, vamos criar crianças doente pulmonares." "Como vão ficar os 2.100 alunos do CEU Paz? O bairro não tem como aguentar essa obra!" "Não houve comunicação de espécie alguma. Se a USP não tivesse avisado a gente do Jardim Paraná, a gente não estaria aqui." "Por que o traçado contorna a pedreira em Taipas, que é prejudicial aos moradores, e vai passar onde não deve?" "Como pode um megaprojeto desse não ter uma consulta popular proporcional a isso? Precisamos ter um plebiscito popular!" "Por que não vai ter uma audiência na regão de Taipas e da Brasilândia?" "Aziz Ab´Saber já propõe a passagem do Rodoanel bem mais distante." "E as obras complementares que não estão no projeto? Como é que a Raimundo Pereira de Magalhães e a Cantidio Sampaio vão aguentar o trânsito de mais carros e caminhões?" "Não pode existir isso de criar um Muro de Berlim, usando o Rodoanel para teoricamente barrar o crescimento da cidade!" "Falaram que vão passar em cima da favela. Nós somos pobres, mas nossas casas são lindas! São mansões!" "Fizeram um 'S' do Senna para contornar a pedreira, preservando os interesses dos empresários." "A velocidade é grande, vai haver acidentes. E se tiver acidente com cargas tóxicas na serra da Cantareira?" "Só mostram as partes bonitas. E o assoreamento da represa no trecho Sul?"

José Ramos de Carvalho, gestor ambiental e morador do Jaçanã, narrou os problemas do Vale do Rio Cabuçu, na divisa de São Paulo com Guarulhos. Ele mostrou que, além dos velhos problemas de poluição da região: Terminal de Cargas Fernão Dias, cruzamento da Fernão Dias com via Dutra e o aeroporto de Cumbica, agora o Rodoanel ameaça piorar as condições ambientais da região. Ele fez o triste relato dos problemas de saúde de sua mãe, causados por essa situação, que pode ser agravar.

Eduardo Jorge, secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, alegou que é uma obra intermunicipal, na alçada da governo estadual, e que cada prefeitura vai se manifestar por escrito no momento certo. Ele afirmou que no trecho Sul a sua secretaria pediu que não fosse aberto um acesso para a av. Sen. Teotônio Vilela, em Parelheiros. Considerou uma vitória da sua secretaria que nenhum acesso à área urbana foi permitido. E agora, com os acessos á av. Raimundo Pereira de Magalhães e à Inajar de Souza? Tomará a mesma posição no trecho Norte?



AUDITÓRIO LOTADO, 95% CONTRÁRIO À OBRA
Postado em Fri, 17 Dec 2010 11:01:58 por ZNnaLinha

O salão da Casa de Portugal, gigante, lotou. Quase
1.000 pessoas durante as 5 horas e meia da audiência pública em São Paulo. Discursos inflamados, cheios de vida e emoção, de moradores do Jardim Paraná, de Parada de Taipas, da Vila Rica, do Jardim Corisco, 3 Cruzes, Guarulhos e também moradores do Grande ABC e da Zona Leste.



A Dersa começou com a exibição do lado "paraíso na terra". Só benesses e melhorias com a passagem de um rodovia classe "zero"(nome técnico que se dá às maiores e mais rápidas rodovias) pela áreas de amortecimento da Serra da Cantareira. Ana Maria Iverson, da equipe que fez o EIA-RIMA, justificou tudo alegando que em 2005 foi feita uma AAE - Avaliação Ambiental Estratégica, que indicou três linhas de atuação do projeto: 1- avaliar alternativas ao Sul e ao Norte da Serra; 2 - verificar como o projeto poderia contribuir para a contenção da expansão urbana; e 3 - como proceder à ligação do Rodoanel com a Inajar de Souza e com o aeroporto de Guarulhos.

Ora, os itens 2 e 3 praticamente, de antemão, definiram a escolha do trecho Sul para a passagem, pois só assim a obra cumpriria essas curiosas indicações do AAE: "conter" ou disciplinar a expansão urbana, e ser uma ligação não só com rodovias, mas com o mundo urbano (av. Inajar de Souza, av. Raimundo P. de Magalhães e acesso ao Aeroporto).

Os técnicos da Dersa ficaram na primeira fila da direita, e junto com eles o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente Eduardo Jorge, que se sentiu mais à vontade ali do que entre os ambientalistas e estudiosos sentados do outro lado do auditório: Carlos Bocuhy, Antônio Manoel Oliveira, Malcolm Forest, entre outros, pessoas de comprovado saber e firmeza em suas convicções sobre danos a serem causado pela obra anacrônica.

Anacrônica porque ultrapassada. Como explicou o eng. de tráfego Horácio Filgueiras durante a audiência, o projeto do Rodoanel tem 40 anos. Tinha validade quando foi projetado, no século passado. Hoje o traçado proposto para o Rodoanel será mais uma grande avenida urbana. Como ele diz de maneira divertida, porém trágica, entre a Marginal do Tieté e o Rodoanel Norte, haverá um enorme canteiro central, só que em vez de gramado, esse canteiro será a Zona Norte, separando duas "avenidas" gigantescas.

Para o engenheiro, para retirar o trânsito de passagem por São Paulo, vindo das rodovias, que é o principal argumento em defesa da obra, o Rodoanel só seria admitido se passasse muito mais ao Norte, além da Serra. Isso desestimularia o uso do Rodoanel como avenida de fuga do trânsito da cidade. Mas isso tiraria o usuário urbano, fazendo o movimento no Rodoanel diminuir. E assim diminuir as receitas de pedágio...

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